Os três possíveis níveis de discipulado


Quando falamos sobre o discipulado, devemos procurar compreender que existem níveis onde o discipulado acontece e onde ele se consuma. Existem três níveis ou dimensões de discipulado, o que ocorre no nível da grande multidão ou grande grupo, o que ocorre dentro de pequenos grupos, e o nível individual. Vamos tentar entender a cada um deles. Informo que não quero dogmatizar sobre o assunto, mas esse é um entendimento pessoal, fique bem claro.

Nível da grande multidão ou grande grupo - Refere-se ao fato de quando cremos em Jesus e passamos então a frequentar uma igreja. Estamos ali inseridos entre aquelas pessoas. Recebemos a pregação da Palavra de Deus, somos ministrados, louvamos ao Senhor com toda a congregação reunida, participamos da Ceia do Senhor, contribuímos financeiramente, oramos juntamente com os irmãos, enfim, estamos de alguma maneira recebendo de Deus, de Sua graça, sobre a nossa vida. Estamos sendo ministrados, estamos em fraternidade. Mas, infelizmente, esse nível não comporta tudo o que Deus tencionou para o nosso pleno crescimento e amadurecimento. Não deixa de ser uma espécie de discipulado sim, mas muito geral e superficial.

Nível de pequenos grupos - Aqui já ocorre uma mudança e tanto! Estamos no interior de um pequeno grupo. Onde ocorre uma abertura muito maior em termos de comunhão entre os membros do Corpo de Cristo e onde a informalidade é uma característica muito importante. No grande grupo, nos cultos ou celebrações com toda a igreja reunida, essa informalidade é muito pequena. Ali ouvimos com atenção a pregação do pastor e somos edificados. Mas sabemos que um único sermão não supre todas as necessidades espirituais dos discípulos de Cristo. Assim, as reuniões de pequenos grupos proporcionam a ambiência ideal para que possamos ter, por assim dizer, um tratamento mais individualizado. Ali somos ministrados mais eficazmente. Ali podemos falar, não nos limitamos a somente ouvir, como ocorre na dimensão do grande grupo. A koinonia a comunhão entre os membros do grupo é mais intensa, a proximidade facilita o processo e assim ocorrerá a mutualidade entre os membros do grupo pequeno, a dinâmica do "uns aos outros" acontece como consequência natural (algumas passagens que demonstram essa dinâmica, Rm 12.10; 15.7; Cl 3.16; 1 Ts 4.18; Hb 3.13). Aqui, portanto, o discipulado ocorre em um nível mais satisfatório por causa da proximidade entre as pessoas.

Nível individual - Esse é o desejável porque é o que realmente proporcionará o discipulado ideal. Mas igualmente, esse nível em relação aos demais é o que mais dificuldades trará para sua plena realização. Isto porque ele demanda tempo. E tempo hoje em dia tornou-se material escasso. Afinal, trabalho, estudos e estar com a família consomem boa parte do tempo disponível e o que resta é aproveitado para repor energias em sua maior parte. Assim, um trabalho de discipulado individualizado, ou seja, um a um, poderá sofrer, mas não tem de ser necessariamente assim, se os discípulos de Jesus considerarem a importância de um discipulado que possa acontecer em toda a sua amplitude.

Andar com alguém para aprender a ser como Jesus de Nazaré é realmente muito custoso. Não é um trabalho para ser feito como se fosse um encontro casual. É compromisso verdadeiro. Essa dimensão individual é, ao meu ver, ideal e superior à grande reunião congregacional, é óbvio, mas também está acima da reunião de pequenos grupos.

A Palavra de Deus demonstra essa dimensão de individualidade para um discipulado mais efetivo. Veja o caso de Moisés e Josué. Também Elias e Eliseu. E o apóstolo Paulo e seus vários discípulos individuais, tais como Timóteo, Tito, Silas e Lucas.

O Senhor Jesus atuou na dimensão dos três níveis de grupos. Para a grande multidão (Mc 2.13), para o pequeno grupo (Mc 3.13,14) e para o indivíduo (Lc 5.27,28). Verdade que vemos Jesus a ministrar nas passagens do NT muito mais vezes aos doze, porém não nos esqueçamos que dentre estes, haviam três mais chegados (Pedro, Tiago e João) e dentre esses vemos João, que estava sempre bem próximo a Jesus e Pedro ao qual Jesus ministrou individualmente muitas vezes. Portanto, cremos firmemente que o discipulado de forma plenamente individualizada é aquele que proporciona a condição sine qua nom para que sejamos revestidos do novo homem, criados segundo Deus, em verdadeira justiça e santidade (Ef 4.24).

É necessário usar a criatividade para que o tempo seja usado com sabedoria a fim de que ocorra esse tipo de discipulado que é muito salutar a todos os que estão nele envolvidos. É preciso também discernimento porque nem todos compreendem ou estão dispostos a submeterem-se a este modelo mais profundo, por assim dizer. Caminhar juntos, demonstrando virtudes mas também defeitos, demonstra amplamente de que somos vasos quebradiços de barro. Nenhum de nós é super-herói da fé, mas todos somos carentes da graça de Deus pelo fato de todos sermos pecadores.

Muitos mitos se desfazem nesse tipo de discipulado. Às vezes, temos a tendência de elevar aqueles que nos ministram, quer seja do púlpito ou até através da mídia e lhe damos uma dimensão de que realmente não são possuidores. O discipulado individualizado coloca essas coisas em seus devidos lugares. Como somos, apareceremos. Não há lugar para subterfúgios de qualquer espécie. O Espírito de Deus quer nos ministrar em nossa inteireza e não de maneira superficial. Precisamos considerar isso seriamente.

Que Deus abençoe você meu amado condiscípulo, e que todos nós sejamos semelhantes a Jesus Cristo, porque essa é afinal a vontade do Pai para nós. E isso pode acontecer por meio de um modelo de discipulado mais profundo como acabamos de expor. Amém!

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