A restauração de um discípulo


Pedro negou o seu Senhor quando este fora preso. Pedro negou que o conhecia por três vezes. Pedro pecou contra Jesus (Mt 26.69-75; Mc 14.67-72; Lc 22.54.62; Jo 18.15-27).

Este episódio leva-me à uma reflexão sobre mim mesmo. Pois quantas vezes eu tive comportamento semelhante ao de Pedro? Quantas vezes neguei Jesus com meu comportamento mau, dúbio e execrável? Sendo assim, nem eu nem qualquer um de Seus discípulos poderão apontar o dedo e condenar a Simão Pedro, homem falível e pecador como qualquer um de nós. O que ele fez, negando veementemente por três vezes de que conhecia a Jesus Cristo, negando qualquer identificação com Ele, dizendo não ser seu seguidor ou discípulo, acontece quase sempre na vida de qualquer um de nós.

Verdade é que Pedro, como nos é testificado nos evangelhos, era aquele discípulo que se destacava em relação aos demais por causa de seu forte temperamento, seu destemor, sua prontidão em servir ao Mestre. Foi ele quem fez a declaração magnífica acerca da identidade de Jesus Cristo em Mt 16.16, "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo". Deus mesmo, conforme disse Jesus (v.17), revelara à mente do intrépido Pedro de que Aquele que estava diante dele, era o Mashiach, o Messias, ou seja, o Ungido de Deus, o Salvador do mundo.

Todavia, logo Jesus começa a revelar o propósito de Deus em levá-Lo a sofrer às mãos dos homens ímpios e finalmente ser crucificado (v.21) e Pedro numa atitude surpreendente e paradoxal, começa a repreender a Jesus dizendo que nada daquilo Lhe aconteceria e o Senhor lhe responde duramente, chamando-o de Satanás (v.22,23), porque naquele instante, Pedro se identifica com o Príncipe das trevas, ao dizer que Jesus não sofreria e que muito menos iria morrer na cruz para depois ressuscitar. 

Esse era Pedro, o mais extrovertido e corajoso dos discípulos de Jesus Cristo. O mais destacado em toda narrativa dos evangelhos. Onde ele estava, logo se sobressaía devido ao seu forte temperamento. Não titubeou em cortar a orelha do servo do sumo sacerdote com a espada no momento da prisão de Jesus (Jo 18.10). Em seguida, juntamente com todos os outros discípulos, põe-se em fuga efetivada a prisão de Jesus pelos guardas.  

Mas Jesus, lhe proporcionou uma inesquecível restauração, registrada no Evangelho de João. No capítulo 21 lemos como o Jesus ressurreto procura a seu discípulo, Pedro, como vai ao encontro dele para restaurá-lo à comunhão Consigo. 

Esta restauração para mim é o paradigma do que Jesus faz conosco através do Espírito Santo que em nós habita. Quando pecamos, negando ao Senhor com nossas atitudes lamentáveis, pecaminosas, blasfemas, o Senhor se manifesta em nós como se manifestou a Pedro. Notemos que ele estava em sua faina diária,  em seu trabalho, pescando. Já fazia mais de uma semana que Jesus havia ressuscitado (Jo 20.26). Pedro, estando junto com ele, Tomé, Natanael, Tiago e João, filhos de Zebedeu e outros dois dos discípulos de Jesus (21.2), estavam à beira do Mar da Galiléia e foram pescar. Era a terceira vez após Sua ressurreição, Jesus se manifestava aos Seus discípulos (v.14). E desta feita, Jesus tratou diretamente com Pedro, visto que muito O amava.

Como é inspirador e reconfortante o tratamento que Jesus dá a Pedro. Quando leio esta passagem do cap. 21 de João do verso 15 em diante, vejo a ternura, o cuidado e o amor do Senhor por seu discípulo faltoso. Sempre me admiro cada vez que leio e vejo a iniciativa de Cristo em procurar aquele que errou, que se desviou, falando-lhe amorosamente. Jesus não dá uma reprimenda em Pedro por havê-Lo negado. Jesus não joga na cara de Pedro toda sua fraqueza e covardia. Não. Ele simplesmente pergunta a Pedro por três vezes: "Pedro, tu me amas" (Jesus faz essa pergunta por três vezes, Pedro o negara também três vezes - que interessante paralelo temos aqui).

Eu tenho a certeza, a convicção, de que meu Senhor Jesus Cristo me tratará da mesma maneira. A Bíblia diz que Deus não faz acepção de pessoas (Dt 10.17; Rm 2.11; Ef 6.9; 1Pe 1.17). Sendo assim, creio firmemente que Ele também me busca, me restaura, e, à semelhança do que fez a Pedro, convida para fazer a Sua obra, porque Ele mandou que Pedro cuidasse de Seu rebanho, que fosse pastor de Suas ovelhas (e Pedro efetivamente foi pastor, 1Pe5.1-3, onde além disso, aconselha como se deveria apascentar o rebanho de Deus). Jesus sempre deseja nos restaurar quando erramos e igualmente determina que façamos a Sua obra conforme tem nos designado.

Meditemos na beleza da atitude de Jesus. Pensemos em seu incomparável perdão e no amor que devota a Seu discípulo. Que possamos da mesma forma, não tendo nisso uma desculpa para vivermos desregradamente, licenciosamente, sob o argumento de que Jesus sempre nos procurará e restaurará, mas pensemos em Seu grande amor por nós, em entregar a Sua vida no madeiro para nos salvar e vivamos de uma maneira que Lhe agrademos todos os dias enquanto nos submetemos ao Seu Senhorio.   

Todavia, se errarmos, saibamos que, além de Seu sangue purificador (I Jo 1.7), temos o Seu amor. Como Ele demonstrou a Pedro, restaurando-o plenamente. Veremos em seguida um Pedro poderosamente usado pelo Senhor, após ter sido batizado com o Espírito Santo, pregar e quase três mil almas se renderem a Cristo de forma maravilhosa (At 2.41), e de curar um coxo de nascença pela virtude e a unção do Espírito Santo que agora sobre ele repousava (At 3.1-10).

Discípulo de Jesus, se você errou, saiba que pronto está o Senhor para restaurá-lo. Reconheça seus erros, seus pecados e usufrua deste tão grande amor e interesse do Senhor por ti, assim como Ele demonstrou a Pedro.

Que Deus ilumine o seu entendimento quanto a isso. A graça inigualável de Jesus seja sobre ti. Amém.



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